Sertão abre portas para a literatura: 6ª edição da Festa da Palavra acontece em Carnaíba

15 de outubro de 2019

Uma viagem pelo livro ilustrado, onde palavras e imagens, juntas, contam a história, tendo como colo o objeto livro. Este texto poético está na apresentação da sexta edição da Festa da Palavra, que acontece em Carnaíba, a 400 quilômetros do Recife, entre os dias 23 e 26 deste mês. A poesia, na verdade, vai estar presente em cada cantinho da cidade seguindo o caminho mágico trilhado por escritores, ilustradores, contadores de histórias que estarão envolvidos nos debates, nos lançamentos de livros, nas discussões que o tema proporciona e que farão ecoar Sertão adentro. O mundo do Era uma vez…, o cheiro do livro, a maciez de suas páginas, o papel com suas letras, imagens e espaços em branco. Momentos para apenas deixar o coração sentir. Ler o livro, ler o mundo, escrever nossa história. Uma história que também será reescrita por todo aquele que mergulhar no universo proposto pela Festa da Palavra.

O evento conta com atividades em vários pontos da cidade, como o Teatro Municipal José Fernandes de Andrade, o Conservatório de Música, Escola Municipal Cônego Luiz, Centro Educação Infantil Marluce Bezerra, Complexo Educacional Governador Miguel Arraes e Escola de Referência Joaquim Mendes. Entre os convidados especiais estão os escritores Maria Valéria Rezende – uma santista que reside na Paraíba e conta com mais de 20 livros escritos para crianças, jovens e adultos -, Marcia Leite – tem cerca de 40 livros publicados, alguns deles premiados -, Susana Ventura – professora de literatura e escritora de livros para crianças e jovens -, Lenice Gomes – especialista em literatura infanto-juvenil – e a historiadora Stela Maris Fazio Battaglia. Também estarão presentes os ilustradores Odilon Moraes, ganhador de vários prêmios Jabuti, e Roberta Asse, autora da Coleção das crianças daqui.

As conversas sobre literatura vão impregnar o ar de Carnaíba e ressoar por todo o Pajeú. Na abertura, o público será brindado com a palest ra “De onde vê mas ideias” com a escritora Maria Valéria Rezende. A palestra está programada para às 19h, no Teatro Municipal. Em seguida haverá uma apresentação da Orquestra Sanfônica da própria Carnaíba. Ao longo dos outros dias, os temas abordados,lógico, giram em torno do universo literário. Estarão envolvidos nessas atividades professores, estudantes, bibliotecários e público em geral em vários espaços onde acontecerão oficinas, contação de histórias, rodas de conversa, apresentações culturais, lançamento de livros e para o encerramento está prevista uma feira de livros. “Carnaíba tem uma tradição cultural muito forte, com sensibilidade desenvolvida nas áreas da música e da poesia. Na terra de Zé Dantas respira-se arte e cultura e receber um evento desse porte nos dá a certeza que será um grande sucesso”, pontua a secretária de Educação do município, Cecília Patriota.

ENTREVISTA LENICE GOMES//

Pernambucana de Jupi, no Agreste do estado, Lenice Gomes é professora de história e especialista em literatura infantojuvenil e dedica-se a pesquisar a cultura popular. Fundou a Companhia das Palavras Andarilhas e coordena o projeto Noite de Histórias, no Recife. Desde 1993 viaja pelo Brasil e alguns países do mundo compartilhando o seu saber sobre literatura e oralidade. Em sua obra destacam- -se as advinhas, os trava-línguas e os elementos linguísticos da cultura popular. Na sua vasta obra, destacam-se vários títulos e prêmios no Brasil e exterior.
Você está de volta ao Sertão…o que este evento representa para você? Nasci em Jupi, Agreste de Pernambuco, então, considero o Sertão parte do meu itinerário de andarilha. A Festa da Palavra representa o que devem ser os eventos literários, ou seja, encontros, momentos de experiência e trocas. São encontros que reúnem todos interessados na literatura, no livro como este objeto encantado, nas boas conversas entre as gerações.
No mundo virtual de hoje, qual a importância da literatura oral?
Mesmo sabendo da força do mundo virtual, não posso deixar de sentir certa saudade de algumas trocas que só podem ser feitas no encontro físico entre as pessoas. Para os contadores o movimento, a voz, a entoação, o olhar, a expressão que vai além do verbal são muito importantes. O mundo virtual segue se adaptando, mas, numa perspectiva pessoal, ainda prefiro o encontro, os cheiros e as cores que estão além da tela.
Você é uma bem-sucedida escritora na área da literatura infantil, como podemos medir o espaço ocupado por este tipo de literatura?
Quando comecei minha trajetória, um tanto inesperada, na literatura infantojuvenil, já haviam autores consagrados – nomes que fazem parte de um cânone na literatura para crianças, por exemplo, Monteiro Lobato -, mas, fora esses nomes não havia uma demanda tão grande por autores e de um público específico. Claro que haviam liv ros escritos para as crianças em idade escolar, entretanto, sempre ocupando um lugar meio a margem da chamada Literatura. Hoje, temos uma quantidade imensa de autores, editoras, os governos interessados na compra de livros para as escolas e uma nova compreensão por parte da sociedade sobre a importância da leitura e dos livros para crianças. Acho que é um bom espaço para quem quer entrar com sinceridade e amor ao que faz.
É impressão ou a contação de história continua sendo bastante importante na época de hoje? O público adulto também pode se beneficiar dela?
A contação de histórias voltou a assumir um lugar de importância, principalmente pela necessidade de resgatar os contos populares, as brincadeiras e de reunir pessoas. Nunca deixou de ser importante, apenas não estava tendo o devido valor reconhecido. E acredito que o público adulto se benef icia ainda mais que as crianças.

PROGRAMAÇÃO:

Por: Sebastião Araújo – Diario de Pernambuco

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